Sobre o componente psicológico no contexto desportivo

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Sobre o componente psicológico no contexto desportivo

Imagem: Mihaly Csikszentmihalyi

Imagem: Mihaly Csikszentmihalyi

O componente psicológico da performance é um componente de extrema relevância, frequentemente subestimado pela dificuldade que existe na sua objetivação. De facto, todos nós reconhecemos um atleta em estado de Flow, um estado de concentração absoluta e de abstração exterior na tarefa que se encontra a realizar em que a performance flui sem esforço como também reconhecemos o fenómeno de choking, em que atletas falham nos momentos cruciais por desorientação de índole psicológica. Quão perfeita seria uma carreira desportiva com um atleta permanentemente a competir em estado de Flow!

Cada vez mais se chega à conclusão que a performance e até a reabilitação de lesões desportivas depende mais de fatores individuais como a resiliência mental (mental toughness) do que variados componentes físicos. De facto, existe evidência de que o treino mental (VMBR - visuo-motor behavior rehearsal) se encontra associado à performance desportiva, relatando alguns atletas de topo volumes de treino mental que alcançam os 50% do treino total.

Mihaly Csíkszentmihályi, um psicólogo Hungaro que se dedicou ao estudo do Flow em diversas áreas identificou 10 factores que acompanham a experiência do flow:

  1. Objetivos bem definidos - As regras e as expectativas são claras e os objetivos alcançáveis de forma a serem alinhados com as capacidades do atleta. Adicionalmente, o nível do desafio e a capacidade para o resolver devem ser ambos elevados.

  2. Concentração - Um elevado nível de concentração num campo limitado de atenção - o atleta tem a oportunidade de se focar profundamente no mesmo.

  3. Perda de consciência do próprio - uma fusão entre a ação e a consciência.

  4. Sensação temporal distorcida - uma perda da experiência subjetiva de tempo.

  5. Feedback imediato e direto - os sucessos e falhas ao longo da atividade são reconhecidos de forma a que o comportamento possa ser ajustado.

  6. Equilíbrio entre a capacidade e o desafio - não poderá ser muito fácil ou muito difícil.

  7. Sensação de controlo pessoal - na situação ou atividade.

  8. Atividade é recompensadora - de forma a diminuir o esforço na ação.

  9. Diminuição da consciência das necessidades do corpo - de forma atingir pontos de fome ou fadiga sem se aperceber.

  10. Abstração exterior na atividade - concentração limitada à atividade sem perturbações exteriores.

Da mesma forma, o psicólogo observou 3 condições necessárias para atingir o flow:

  1. Objetivos bem definidos - Adiciona direção e estrutura à tarefa.

  2. Equilíbrio entre percepção da tarefa e as capacidades do próprio - Necessidade de confiança para que seja capaz de realizar a tarefa.

  3. Necessidade de feedback imediato - Este facto ajuda o atleta a gerir a performance conforme as exigências da tarefa de forma a manter o estado de Flow.

Mais treino físico nem sempre equivale a melhor desempenho em competição. Para quando o próximo treino mental?

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Sobre intervenção em dor por espasticidade

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Sobre intervenção em dor por espasticidade

A espasticidade trata-se de um aumento do tónus muscular dependente da velocidade, consequência de uma lesão do primeiro neurónio motor (usualmente decorrente de Acidente vascular cerebral - AVC - ou outras patologias do Sistema Nervoso Central).

Este aumento do tónus associa-se frequentemente a dor, quer pela própria dor muscular e tendinosa decorrentes da contração muscular sustida, quer pela compressão de estruturas nervosas e vasculares adjacentes aos músculos.

O tratamento base passa pelo cumprimento de um programa de reabilitação estruturado. Em termos de intervenção, as injeções de Toxina Botulínica guiadas por ecografia permitem a injeção direcionada de uma substância que diminui o tónus muscular. Os bloqueios de nervo periférico podem ser úteis quer em termos diagnósticos (distinguir ativação muscular vs. rigidez por tecidos moles) quer em termos terapêuticos (aumentando amplitudes articulares). A Radiofrequência de nervo periférico e a Crioablação são técnicas úteis na gestão de espasticidade regional refractária às medidas conservadoras.

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Sobre intervenção em dor neuropática

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Sobre intervenção em dor neuropática

 
 

O termo dor neuropática é um desígnio dado à dor que tem origem no sistema nervoso. Embora possa ter origem no sistema nervoso central (medula e cérebro) a dor neuropática tem usualmente origem a nível periférico.

No caso da dor neuropática por neuropatias compressivas (compressão por uma estrutura adjacente), existem múltiplas etiologias. No membro superior existe o caso do Nervo Mediano no Canal Cárpico, do Nervo Radial na Arcada de Frohse, do Nervo Cubital no Canal de Guyon ou no canal cubital ao nível do cotovelo, entre outras. No membro inferior existe o caso do Nervo Ciático no Músculo Piriforme ou nos Tendões Isquiotibiais, do Nervo Peroneal no colo do Perónio ou do Nervo Sural ao atravessar a fascia superficial. O tratamento usualmente consiste na resolução da compressão do nervo, realizando Hidrodilatações de Nervos Periféricos guiadas por ecografia (separando o nervo das estruturas adjacentes), realizando injeções de Toxina Botulínica (no caso dos conflitos com músculos) ou até libertações ligamentares guiadas por imagem.

Existem outras causas de Neuropatias como as decorrentes de Nevralgia do Trigémeo, infeções a Varicela zoster, entre outros. Nestes casos, além da medicação, existem múltiplos procedimentos com possíveis aplicações como os Bloqueios de Nervo Periférico, a Radiofrequência pulsada ou ablativa, a Crioablação ou até o implante de Neuroestimuladores periféricos ou medulares.

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Sobre intervenção em dor no pubis - Pubalgia

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Sobre intervenção em dor no pubis - Pubalgia

 
 

A pubalgia é um termo lato para uma dor que se situa na região do pubis que pode ter dezenas de diferentes etiologias.

A etiologia de Tendinopatia/Tendinite dos Adutores ou dos Músculos Retos abdominais é das mais frequentes e deve-se a uma hiperativação/descoordenação destes grupos musculares, usualmente associada a fraqueza. O tratamento passa pela reeducação destes músculos. Os bloqueios guiados por imagem dos Nervos Obturadores usualmente são uma ferramenta útil na cessação do ciclo vicioso de dor/contração muscular sustida.

A Neuropatia dos Nervos Ilioinguinal e Iliohipogástrico são uma causa frequentemente subdiagnosticada, devendo-se ao conflito destes na passagem entre o Músculo Iliopsoas e os músculos da parede abdominal. A hidrodilatação guiada por ecografia destes nervos usualmente apresenta resultados favoráveis.

As hérnias abdominais são uma causa menos frequente e devem-se à extrusão do conteúdo abdominal através de pequenas “falhas” desta. Usualmente agravam com a tosse, podendo-se palpar uma massa nestes pontos específicos em alguns casos. O tratamento usualmente é cirúrgico.

Existem outras causas de pubalgia, menos frequentes, de origem intra-abdominal pelo que a pubalgia deverá ser sempre minuciosamente investigada em termos clínicos.

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Sobre intervenção em dor cervical - Cervicalgia

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Sobre intervenção em dor cervical - Cervicalgia

 
 

As dores no pescoço originam-se maioritariamente em alterações posturais que cursam com hipercifose dorsal com hiperlordose cervical, daí que o seu tratamento passe pela correção dos diversos padrões de alterações posturais.

A patologia do pescoço divide-se em dois grupos principais: axial com dor no centro do pescoço ou radicular com irradiação para os membros superiores.

Na dor axial predomina a Artropatia/Artrose das articulações Facetárias cervicais, que usualmente agrava com a extensão do pescoço. Quando afecta as articulações superiores esta dor pode irradiar para a cabeça; quando afecta as articulações inferiores tende a irradiar para a zona do Músculo Trapézio. Os bloqueios do Ramo Medial cervical são uma ferramenta útil na gestão desta patologia. Em caso de recaída, a Radiofrequência dos Ramos Mediais cervicais é uma opção duradoura.

A dor de etiologia muscular é também um importante componente da dor cervical, podendo afectar diversos músculos como o Músculo Trapézio, Splenius ou Elevador da Omoplata. O calor, massagem, alongamento e diatermia são a base do tratamento deste tipo de dor, tendo também lugar os bloqueios de nervo periférico e a injeção de Toxina Botulínica nos casos refractários.

No caso da dor radicular, em que as raízes nervosas se encontram comprimidas por diversas estruturas, a injeção de anti-inflamatórios junto das raízes comprimidas pode ser uma opção a considerar antes da opção cirúrgica.

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Sobre intervenção em dor na anca

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Sobre intervenção em dor na anca

 
 

Uma das causas mais frequentes de dor na região da anca é a Trocanterite, uma inflamação das estruturas tendinosas ou ligamentares da zona do Trocanter (a superfície ossea que se palpa na face externa da coxa). Esta inflamação deve-se usualmente ao padrão de marcha com Adução da coxa associada a Valgo dinâmico do joelho na fase de apoio unipodal. O tratamento passa pela correção biomecânica. A Hidrodilatação ecoguiada da Banda Iliotibial usualmente controla a dor de forma a permitir uma correção biomecânica fácil e sem dor.

Os Conflitos femuroacetabulares, as Lesões do Labrum e as Coxartroses são as causas mais frequentes de dor intra-articular da Articulação Coxofemural. Usualmente são dores que agravam com a rotação da anca e se projectam para a virilha ou em “C” na zona da anca. Dependendo da etiologia, as injeções guiadas por imagem de Ácido Hialurónico (Viscossuplementação) são uma ferramenta útil no controlo da dor.

Na face posterior da coxa, na população atlética é frequente a Tendinopatia/Tendinite dos Isquiotibiais. O tratamento passa pela reeducação destes músculos e tendões através da carga controlada de forma progressiva. A injeção ecoguiada de Plasma Rico em Plaquetas usualmente confere alívio sintomático. Ainda na face posterior da coxa, o Conflito Isquiofemural, uma dor que agrava com a rotação externa da anca pode ser aliviada através da injeção guiada por imagem de anti-inflamatório no Músculo Quadrado Femural.

Na zona glútea, a dor do Músculo Piriforme dá uma dor profunda que pode irradiar para a coxa por conflito intermitente com o Nervo Ciático. O bloqueio anestésico usualmente é diagnóstico e terapêutico tendo lugar, em caso de recaída, a injeção guiada por imagem de Toxina Botulínica.

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Sobre intervenção em dor no Tornozelo e Pé

 
 

Uma parte significativa das dores do tornozelo são de origem pós-traumática, usualmente originadas no contexto de um trauma direto ou entorse. Embora os entorses do tornozelo sejam usualmente banalizados, estes apresentam um largo espectro de possíveis lesões associadas, algumas das quais associadas a pior prognóstico.

Em alguns casos, após o trauma inicial persistem no tempo dores que se podem originar em diversas estruturas, nomeadamente em ligamentos (sendo o Ligamento Peroneo-Astragalino anterior o mais frequente) ou articulações (sendo as mais frequentes as Articulações Tibio-Társica, Tibio-peroneal inferior, Subtalar ou Talonavicular).

As injeções de anestésico guiadas por ecografia têm um papel relevante em termos diagnósticos uma vez que nos orientam para o foco exacto de dor. No caso das dores articulares, as injeções guiadas por imagem de Ácido Hialurónico (Viscossuplementação) ou de Plasma Rico em Plaqueta (Factores de crescimento) são usualmente eficazes no controlo da inflamação. Já no caso das dores ligamentares, as injeções de anti-inflamatórios ou Ácido Hialurónico ajudam no controlo desses focos.

Considerando as dores não associadas a trauma, tornam-se frequentes as dores na zona interna do pé resultantes de inflamação da Banda Medial da Fascia Plantar, do Músculo Abductor do Hallux ou dos Ramos Calcaneanos do Nervo Tibial pelo padrão de pronação do tornozelo (tornozelo a descair para dentro) que é extremamente frequente na população em geral. Os procedimentos guiados por imagem (injeções de anti-inflamatório, Plasma Rico em Plaquetas ou Bloqueios de Nervo Periférico) são usualmente eficazes no controlo da dor, permitindo um trabalho de correção biomecânica sem dor.

As Tendinopatias/Tendinites do Tendão de Aquiles são uma causa frequente de dor na população atlética. Conforme a zona do tendão afectada, as hidrodilatações guiadas por imagem ou as injeções de Plasma Rico em Plaquetas, bem como a correção biomecânica de desvios no plano coronal são parte do sucesso no seu tratamento.

Por último, o Neuroma de Morton trata-se de uma inflamação de um dos nervos do pé dando origem a dores irradiadas, usualmente entre o 3º e 4º dedos do pé. A injeção de anti-inflamatórios, a Radiofrequência ou a Crioablação são ferramentas úteis no controlo da dor.

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Sobre intervenção em dor no Ombro - Omalgia

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Sobre intervenção em dor no Ombro - Omalgia

 
 

As dores no ombro são uma das causas mais frequentes de dor na população em geral sendo um verdadeiro desafio pelas múltiplas estruturas envolvidas nesta região.

Apenas 20% da cabeça do Úmero (osso do braço) contacta com a escápula (osso do tronco) o que predispõe esta articulação a situações de instabilidade. Desta forma, as causas de dor no ombro são maioritariamente de origem extra-articular, dos múltiplos tendões e músculos desta região.

A causa mais frequente de dor no ombro é a Tendinopatia/Tendinite do Supraespinhoso por Conflito Subacromial, ou seja, a inflamação do Tendão Supraespinhoso por pinçamento contra o osso Acrómion. Esta dor usualmente agrava quando se levanta o braço. Este conflito deve-se a um complexo desequilíbrio biomecânico do ombro que leva a uma elevação da cabeça umeral. As injeções guiadas por imagem da Bursa Subacromial, os Bloqueios de Nervo Periférico e as Injeções de Toxina Botulínica são opções terapêuticas relevantes que permitem um trabalho de correção biomecânica (tratar a causa) eficaz e sem dor. Quando existem calcificações deste tendão a agravar este conflito, a destruição e aspiração guiada por ecografia das calcificações permite uma resolução do conflito.

A Capsulite Adesiva (Ombro congelado) trata-se de uma inflamação da cápsula articular que cursa com rigidez da mesma; desta forma, todos os movimentos do ombro se encontram limitados nesta patologia. Usualmente é consequência a situações de imobilização prolongada ou de doenças metabólicas como a Diabetes mellitus. O tratamento primordial é a mobilização articular de forma a aumentar as amplitudes articulares. Os bloqueios de nervos periféricos ou as Hidrodilatações intra-articulares guiadas por imagem são opções terapêuticas que aceleram e facilitam o processo de recuperação.

Outras causas frequentes incluem Tendinopatias da Longa Porção do Bicipete, Tendinopatias do Subescapular por Conflito Sub-coracoideu (outro tipo de conflito biomecânico), Artroses Acromio-claviculares ou Artroses Gleno-umerais (a principal articulação do ombro), cada uma com um perfil de abordagem específico.

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Sobre intervenção em dor no Joelho - Gonalgia

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Sobre intervenção em dor no Joelho - Gonalgia

 
 

As dores no joelho dividem-se em de origem intra-articular (cartilagem, menisco e ligamentos) ou extra-articular (tendões, músculos e ligamentos) tendo cada uma das classes abordagens distintas.

Uma das causas de dor no joelho mais frequentes em pessoas jovens ou atletas é o Conflito Femuropatelar, ou seja, um conflito entre a Rótula e a cartilagem dos Côndilos Femurais. Usualmente trata-se de um tipo de dor que agrava com muito tempo sentado ou ao descer escadas. Quando não tratada inicialmente esta patologia pode evoluir para lesões da cartilagem mais profundas. A injeção intra-articular guiada por imagem de Ácido Hialurónico ou de Plasma Rico em Plaquetas permite usualmente um controlo adequado da dor que origina uma janela analgésica de forma a corrigir as causas biomecânicas deste conflito.

Ainda na população jovem atlética, a Tendinopatia/Tendinite do Tendão Rotuliano é uma causa frequente. As hidrodilatações peritendinosas guiadas por imagem são uma opção terapêutica eficaz bem como a injeção guiada por imagem de Plasma Rico em Plaquetas intra-foco de Tendinopatia, conforme o tipo de tendinite. Torna-se sempre essencial um plano de exercícios específicos de forma a evitar a recaída.

Na população mais idosa as dores mais frequentes afectam o compartimento interno do joelho, afectando as estruturas do Menisco Interno, Ligamento Colateral Medial ou mesmo os tendões da Pata de Ganso. Estes focos inflamatórios devem-se ao padrão de valgo do joelho (padrão de marcha com o joelho para dentro), presente na maioria da população. As injeções peritendinosas ou as injeções perimeniscais guiadas por imagem permitem um controlo eficiente da dor para uma posterior correção biomecânica eficiente.

A Artrose do Joelho é também uma das causas mais frequentes de dor no joelho na população idosa, gerando dor em toda a articulação. As injeções intra-articulares guiadas por imagem de Ácido Hialurónico (Viscossuplementação), Anti-inflamatórios ou Plasma Rico em Plaquetas (Factores de crescimento) são opções terapêuticas eficazes na sua gestão antes de se considerar o implante de uma prótese.

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Sobre intervenção em dor Lombar - Lombalgia

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Sobre intervenção em dor Lombar - Lombalgia

 
 

A dor Lombar é das queixas de dor mais frequentes na população, estimando-se que 80% da população irá ter esta queixa em algum momento da sua vida. Embora uma das correntes científicas defina que a maior parte destas queixas se enquadra na “non-specific low back pain” (dor lombar inespecífica), outra corrente (na qual acredito) defende que um exame clínico minucioso com a respectiva correlação imagiológica nos pode conduzir à origem específica deste tipo de dor podendo assim tratá-la adequadamente.

A dor lombar divide-se em dois grandes grupos : axial (no meio das costas) ou radicular (com irradiação para os membros inferiores).

No primeiro caso, axial, uma das causas mais frequentes é a Artropatia facetária, ou seja, uma artrose ou inflamação das pequenas articulações que existem no muro posterior da coluna vertebral. A inflamação destas estruturas deve-se usualmente a alterações da coluna vertebral no eixo sagital, nomeadamente ao padrão de hiperlordose lombar (uma curvatura mais pronunciada da coluna lombar). Usualmente o procedimento guiado por imagem de Bloqueio de Ramos Mediais Lombares ou até a Radiofrequência dos Ramo Mediais Lombares permite uma diminuição drástica das queixas de dor que permite uma janela temporal analgésica para uma adequada correção postural.

No segundo caso, radicular, uma das causas mais frequentes são as hérnias discais. Este tipo de situações exige uma integração clinico-imagiológica rigorosa de forma a definir um plano individual. Como medidas conservadoras (não-cirúrgicas), a injeção de Ozono intra-discal (o único tipo de administração de Ozono com evidência científica) ou a injeção de anti-inflamatórios no espaço epidural usualmente permite um controlo adequado das queixas de dor.

Adicionalmente existe uma miríade de outras estruturas que entram no espectro da Dor Lombar como a Sacroileíte (inflamação da Articulação Sacroilíaca), a inflamação das múltiplas inserções da Fascia Toracolombar, a dor discogénica pura e as dores irradiadas da zona da nádega por compressões do Nervo Ciático nesta zona; cada uma destas situações apresenta diferentes possíveis soluções conforme os casos.

É de salientar que qualquer Dor Lombar cursa com dor de origem muscular associada, numa espécie de “defesa” do organismo, que às vezes pode ser de intensidade maior à da estrutura originalmente inflamada, devendo por isso também adequadamente tratada. Usualmente o calor, massagem e alongamento são uma fórmula universal que ajuda a controlar os picos de dor associados.

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Acerca dos géis em maratonas de montanha.

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Acerca dos géis em maratonas de montanha.

Trata-se provavelmente de uma das questões mais debatidas em desportos de endurance. As opiniões diferem mas, na minha modesta opinião, nas maratonas de montanha a ingestão de calorias deve-se basear em géis, baseada em 2 pressupostos:

  • é uma distância suficientemente longa para o aporte energético ser fundamental
  • é uma distância suficientemente curta (e intensa) para dificultar o aporte de comida sólida.

Quem já passou por uma situação de hipoglicemia sabe que é uma sensação terrível, arruinando por completo as aspirações a uma boa performance. No entanto, a hipoglicemia é facilmente evitável e, cada vez que preparo uma prova, lembro-me de que não quero ter essa experiência. Seguem-se algumas questões frequentes.

  • Quantos géis devo tomar por prova?

Isto é altamente variável. Os experts recomendam quase consensualmente o aporte de 200kcal/hora, mas pensar que controlamos o corpo humano com fórmulas universais é perigoso. Entre atletas de topo, conheço variações entre os 2 e os 9 géis por maratona, para performances semelhantes. Estas diferenças existem porque atletas diferentes têm metabolismos muito diferentes, daí a falha das fórmulas universais. 

A imagem seguinte mostra um esquema simplificado das principais fontes de energia que usamos durante uma prova de longa distância. Ambas as fontes de energia convergem na formação de AcetilCoa, a partir do qual seguem uma via comum que culmina na produção de energia.

Quando estamos em esforço, o nosso organismo dá prioridade ao uso da via A, com um mecanismo enzimático mais simples e rápido e vai buscar os hidratos de carbono ao músculo e fígado. No entanto, as reservas de hidratos de carbono são esgotáveis, ao contrário das reservas de ácidos gordos que são virtualmente inesgotáveis em competição (um indivíduo de 70kg com 15% massa gorda tem quase 10kg de gordura corporal!)

  • E então, como poderemos melhorar a eficácia do uso de energia?

Na figura em baixo, estão esquematizadas as principais formas de melhorar o aporte energético em prova:

  1. Os treinos longos, os mal-afamados "treinos curtos em jejum", a evicção de alimentos com elevado índice glicémico na dieta diária e o aumento da ingestão de gorduras no dia-a-dia, comprovadamente aumentam a eficiência da via B. Quando estamos em forma, necessitamos de um menor aporte calórico em competição, porque todas as complexas vias de utilização de ácidos gordos funcionam de forma mais eficiente.
  2. A ingestão de géis aumenta de imediato a quantidade de glicose disponível em esforço.
  3. A ingestão de uma elevada quantidade de hidratos de carbono nos 3 dias anteriores a competição, asseguram que as nossas reservas estarão repletas quando necessário.
  4. A cafeína promove a via B em detrimento da A, daí o facto de ser um componente frequente dos géis comercializados.

O Kilian relata treinos frequentes de 6-7horas de corrida, com um aporte energético muito baixo, daí que não surpreenda o facto de necessitar de um aporte calórico baixo em prova: a sua via "B" é muito eficiente e tem uma grande capacidade de armazenamento de hidratos de carbono. No meu caso, faço poucos treinos longos por falta de tempo livre disponível, logo achei o meu equilíbrio com um elevado aporte de hidratos de carbono em competição. 

  • Quando devo começar a ingerir géis durante a prova?

Um dos erros mais frequentes dos atletas é começarem a ingerir géis tardiamente, quando sentem uma quebra de rendimento ou quando sentem alterações de cognição. Estes são sinais de hipoglicemia nos músculos e cérebro e, quando se instalam, é tarde demais: o atleta irá quebrar a sua performance e será muito difícil compensar este deficit até o final da prova. Aquela sensação frequentemente descrita como "a cabeça está leve" é um importante sinal de que o cérebro necessita de glicose e de que falhámos no nosso aporte calórico. Os géis devem ser tomados de forma preventiva e não como uma solução para um problema instalado. 

  • Mas não deveria evitar os géis em competição por causa dos "picos de insulina"?

Nunca percebi a origem deste mito. Quando comemos num estado de repouso existe um aumento da libertação de insulina que baixa a glicemia plasmática através da promoção do seu armazenamento. Quando ingerimos alimentos em competição, com glicemias baixas e em estado catabólico, NÃO existem picos de insulina e este facto encontra-se demonstrado há várias décadas (o nosso corpo não é "estúpido" a esse ponto). Relativamente à ingestão de alimentos nos minutos antes da competição, aí sim existem picos de insulina, mas não está demonstrado que os mesmos tenham influência na performance. 

  • Que gel devo ingerir? Existem tantas marcas e variações!

Os géis transportam uma elevada quantidade de calorias num baixo volume, mas têm 2 problemas principais:

  1. causam distúrbios gástricos (eventualmente intestinais reflexos) pelo seu elevado conteúdo em glicose;
  2. causam uma sensação de náusea pelo sabor doce intenso.

Penso que o que qualquer atleta deve saber distinguir num gel é o conteúdo em maltodextrina. Alguns conceitos importantes são os de que a Glicose é um monossacárido (1 molécula de glicose), a Sacarose é um Dissacárido (2 monossacáridos juntos) e o conceito de um açúcar é o de moléculas simples como monossacáridos e dissacáridos. A maltodextrina trata-se de um polissacárido (muitas glicoses juntas) com ligações fracas entre si, facilmente quebradas, resultando em géis com sabor pouco intenso, mais toleráveis e de absorção rápida. Pessoas que necessitem de grande aporte calórico e com elevada sensibilidade gastrointestinal devem preferir géis com elevado teor proporcional de maltodextrina.

maltodextrina

Costumo comparar géis com base no peso (importante para o peso que transportamos durante a corrida), total de kcal (o aporte energético) e os gr. de hidratos de carbono/açucares (no caso dos géis, os que não são açucares, são na sua maioria maltodextrina). A maioria dos outros componentes dos géis, além da cafeína, são irrelevantes para a performance neste contexto. Pegando em informação de marcas, disponível no site da Prozis (aqui), a informação relevante dos géis que retiro é:

  • EXEMPLO: GEL (peso em gr.-kcal, Hidratos de carbono em gr./açucares em gr.).
  • Carborade energygel (40g-107kcal, 26.50/6)
  • Goldnutrition extremegel (40g-105kcal, 26/4.8)
  • Biotech energygel (60g-82kcal, 16/14)
  • SIS GO (60g-87kcal, 22/0.60)
  • Powergel Original (41g-107kcal, 26.7/9.8)
  • Zipvit Z7 (51g-204kcal, 51/26.8) 

Com uma análise simples, podemos concluir que o gel Biotech é maioritariamente composto por açúcares, que os geis da Carborade, Goldnutrition e Powergel são muito semelhantes na sua constituição (~25% açúcares) e que o SIS GO é o gel mais adequado para quem tiver uma elevada sensibilidade Gastrointestinal. O Zipvit, destaca-se pelo dobro das calorias e hidratos de carbono num gel, com cerca de 50% de maltodextrina. Mais uma vez, cada um deverá encontrar o seu equilíbrio entre aporte necessário e sensibilidade gastrointestinal. 

Resumindo, os géis são uma fonte cómoda de ingestão de energia durante uma maratona de montanha e o seu timing é decisivo na performance. Contudo, num mundo desportivo cada vez mais dominado pelo marketing, torna-se fundamental focarmo-nos naquilo que realmente importa: treino, gel (quanto e quando), kcal, maltodextrina. Poderia vender o suplemento abaixo como uma boa fonte de hidratos de carbono para a performance, proteína para a recuperação, sódio para a hidratação, ferro para a anemia e especial adição de vitaminas, mas trata-se apenas da informação nutricional de um pão com queijo e fiambre:

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